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The Economist: Depois de anos, automação veio para ficar

Pandemia favoreceu maior uso de robôs nas fábricas, nos armazéns e nas áreas administrativas; pesquisa aponta que, até o fim do ano, adoção de robôs nas fábricas em todo o mundo vai superar 3,2 milhões

Por The Economist
Atualização:

Mary Barra, CEO da General Motors, recorreu à plataforma virtual no dia 12 de janeiro para o lançamento da BrightDrop. A nova divisão de logística da companhia venderá coisas tão sem graça como vans para entrega de mercadoria e paletes elétricos autônomos para serem usados em armazéns. Coisas que dificilmente fariam o coração bater mais acelerado. Segure o seu bocejo, porque o anúncio de Mary é o sinal mais recente de uma revolução silenciosa, e contudo poderosa.

“A convergência de software e hardware que vemos nas alas acarpetadas das companhias hoje pode ser vista nas oficinas das fábricas de todas as indústrias que atendemos”, diz Blake Moret, diretor executivo da Rockwell Automation, uma gigante do setor. A sua empresa tem uma unidade industrial de grande escala na sua sede de Milwaukee, para provar que a automação permite fazer produtos competitivos apesar dos altos custos da mão de obra nos EUA. O preço das suas ações subiu 28% no ano passado, quase duas vezes o índice das 500 maiores companhias da S&P nos EUA. Outras fornecedoras foram ainda mais longe.

Alto preço da mão de obra foi compensado com máquinas na pandemia. Foto: Ralph Orlowski/Reuters

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Altos executivos gabam-se há anos da automação de suas operações sem ter muito o que exibir. A covid-19 os obrigou a mostrar mais ação e menos palavras. Hernan Saenz, da empresa de consultoria Bain, prevê que até 2030 as empresas americanas investirão US$ 10 trilhões em automação. Nigel Vaz, diretor executivo da Publicis Sapient, uma grande empresa de consultoria digital, afirma que a crise proporciona aos chefões uma cobertura perfeita. “A pressão insistente dos investidores por resultados financeiros a curto prazo foi temporariamente suspensa”, diz. “As empresas não estão voltando para a sua situação anterior à pandemia, mas reformularam completamente como vão trabalhar,” diz Susan Lund, coautora de um relatório que será publicado em breve pelo think-tank McKinsey Global Institute. Uma recente pesquisa da empresa de consultoria irmã do instituto constatou que dois terços das companhias globais estão cedendo à automação.

Sim, robô! Os robôs são os vencedores mais notáveis. A empresa de pesquisa Robo Global prevê que até o fim de 2021 a base instalada de robôs de fábricas em todo o mundo superará 3,2 milhões de unidades, o dobro do patamar de 2015. Segundo as previsões, o mercado global de robótica industrial crescerá de US$ 45 bilhões em 2020, para US$ 73 bilhões em 2025.

“Nós estivemos na primeira fila durante a pandemia”, diz Michael Cicco, diretor das operações americanas da Fanuc, uma fabricante de robôs japonesa. Com as cadeias de fornecimentos esgotadas, as indústrias foram obrigadas a encontrar soluções para criar flexibilidade, afirma. As companhias que transferiram a sua produção procuraram compensar os altos preços da mão de obra com as máquinas. Além disso, os robôs estão se tornando mais capacitados. Os mais hábeis podem pegar objetos delicados como um morango.

A Fanuc registrou um aumento da demanda de equipamentos para manuseio de material, e de “robôs colaborativos”, projetados para interagir com as pessoas. Esses “cobôs”, como são chamados, são particularmente úteis no e-commerce, que recebeu um impulso enorme com a covid-19. 

Stuart Harris, da Emerson americana, uma grande empresa de automação, afirma que “as aplicações pervasive sensing” – que combinam inteligência artificial e sensores inteligentes – ajudaram o faturamento de sua companhia com monitoramento remoto a crescer 25% no ano passado. 

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A Publicis Sapiens automatizou a previsão do estoque da divisão de uma grande varejista europeia que repetidamente ficou sem produtos em plena mudança dos padrões de consumo durante a pandemia. O software da empresa de consultoria permitiu que a cliente prevenisse a escassez de 100 de seus principais itens 98% das vezes.

A automação não chegou apenas aos armazéns e às oficinas das fábricas, mas também à área administrativa das companhias. Segundo uma estimativa, o sistema de saúde dos EUA poderia economizar US$ 150 bilhões por ano graças à automação dos processos burocráticos. A Allied Market Research, uma firma de analistas, prevê que as vendas globais de produtos para automação de processos crescerão de US$ 1,6 bilhão em 2019, para cerca de US$ 20 bilhões, em 2027. Em dezembro, a UI Path, uma startup romena inovadora na área, pediu para fazer uma oferta pública inicial. Ela poderá começar com um valor de mercado de US$ 20 bilhões. No dia 12 de janeiro, a Workato, uma concorrente americana, informou que captou US$ 110 milhões em recursos novos.

Os céticos observam que a história está repleta de exemplos de tecnologias que supostamente mudariam o mundo e iludiram os executivos, não cumprindo as promessas. (Lembram da blockchain?). Quando a covid-19 for derrotada, o entusiasmo das companhias por novas tecnologias talvez diminua. Os que perderam a oportunidade de se automatizar – como aconteceu com muitos que estavam ocupados tentando simplesmente sobreviver à recessão – perderão a cobertura de que fala o diretor executivo da Publicis Sapient.

Os otimistas retrucam que desta vez será diferente. No passado, os maiores retornos para a automação beneficiaram as gigantescas corporações. Hoje, os avanços na tecnologia e modelos de negócios permitem que as menores desfrutem de benefícios semelhantes. Isso deveria aumentar a demanda de sistemas inteligentes – e com o tempo reduzir ainda mais os seus custos. E assim por diante, em um ciclo virtuoso totalmente automatizado./ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

© 2021 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM