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Arranca a grande modernização da Linha de Cascais. O que vai mudar?

Substituição da catenária para uniformizar a tensão da Linha de Cascais com a da restante rede ferroviária é um passo essencial para o futuro da segunda linha mais movimentada do país. Obra arranca agora, podendo terminar entre o final de 2024 e o início de 2025. Novos comboios só chegam em 2026.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Foi a bordo de um comboio entre o Cais do Sodré e Cascais que se assinalou nesta terça-feira, 6 de Dezembro, o arranque formal da tão aguardada grande obra de modernização da Linha de Cascais, a segunda linha mais movimentada do país. “Não estamos aqui a fazer nenhum anúncio, estamos a entregar a obra ao empreiteiro”, garantiu o Ministro das Infraestruturas. Pedro Nuno Santos esteve presente, ao lado do Presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, e do Vice-Presidente da Câmara de Oeiras, Francisco Gonçalves. Da Câmara de Lisboa, ninguém foi – nem Carlos Moedas, conforme estava no programa, nem o Vice-Presidente, nem tão pouco um Vereador.

O evento contou ainda com o Vice-Presidente da Infraestrutura de Portugal (IP), Carlos Fernandes, e o Presidente da CP, Pedro Moreira; a bordo do comboio, numa viagem que durou cerca de 40 minutos, explicaram aos responsáveis políticos e aos jornalistas os contornos da modernização da Linha de Cascais.

Em resumo

A obra de modernização da Linha de Cascais é complexa e envolve várias etapas, sendo que algumas delas já estão concluídas ou feitas. Em resumo, será isto:

  • uma nova catenária em toda a Linha de Cascais, permitindo alterar a tensão dos actuais 1500 volts em corrente contínua para 25 mil volts em corrente alternada – esta alteração é crucial para o futuro da Linha, que passará a funcionar na mesma tensão que a restante rede ferroviária, deixando de estar isolada. Na prática, isto significa que qualquer comboio actual da CP poderá circular nesta linha, ao contrário do que acontece hoje, em que tem de haver material específico para funcionar nos 1500 volts;
  • a instalação de diagonais nas vias ao longo da Linha de Cascais. Sendo que esta Linha tem, como habitual, duas vias – uma para cada sentido –, estas diagonais vão permitir que os comboios passem de uma linha (ou via) para a outra em caso de acidente ou de outra perturbação. Hoje em dia, se existir algum problema numa das vias é bem provável que toda a circulação fique bloqueada porque os comboios não conseguem desviar-se;
  • em toda a Linha passará a ter um sistema digital de informação aos passageiros, o que permitirá às pessoas saber que comboio vem a seguir, se é um comboio rápido ou normal e quanto tempo de espera. Actualmente, esta informação é inexistente na vasta maioria das estações, onde não existem quaisquer painéis digitais. Excepção feita para as estações terminais, do Cais do Sodré e de Cascais. O sistema de informação estará presente nas estações mas também nos comboios;
  • melhoria e adaptação de todas as estações e apeadeiros, tornando-as acessíveis a todas as pessoas (incluindo pessoas com mobilidade condicionada), e dotando-as de equipamentos novos ou renovados. Já as estações de Algés, Oeiras, Carcavelos, São Pedro e Cascais vão ser alteradas com um novo desenho de forma a melhorar a experiência dos passageiros;
  • a Linha de Cascais vai ter um novo sistema de sinalização, que permitirá uma melhor comunicação do posicionamento de cada comboio, aumentando a segurança da circulação ferroviária. Com a instalação deste novo sistema, que já está em curso, a Linha de Cascais passará a ser gerida a partir do Centro de Comando Operacional (CCO) de Lisboa, como as restantes Linhas;
  • vão chegar 34 novos comboios à Linha de Cascais uma vez renovada. Fazem parte do pacote de 117 novos comboios urbanos e regionais que a CP está a comprar.

E datas? Os trabalhos com a catenária – aqueles que condensam a parte mais substancial e importante da modernização – deverão ficar prontos entre o final de 2024 e o início/meados de 2025, com a chegada dos novos comboios prevista para 2026.

O que já foi feito? E o que falta fazer?

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

O Vice-Presidente da IP, Carlos Fernandes, garantiu que a sua empresa – que é responsável pela gestão de toda a infraestrutura ferroviária nacional –“não esteve parada” nos últimos anos e que já foram renovados todo o carril da linha de Cascais (“Já não há travessas de madeira nesta linha”, disse). Também a estação de Cascais tem a nova catenária pronta – é a única estação de toda a linha que já está apta para receber 25 mil volts.

A empreitada que ficou consignada nesta terça-feira é a grande obra de modernização da Linha de Cascais, aquela que serve de chapéu e ao mesmo tempo de tapete a todas as outras empreitadas e intervenções. Diz respeito à substituição da catenária entre a estação do Cais do Sodré, inclusive, e a de Cascais, exclusive. “É um trabalho muito complexo aquele que vamos ter aqui ao longo dos próximos dois anos”, mencionou Carlos Fernandes. “Vamos substituir todos os postes de catenária”, explicou, o que vai obrigar a “interromper os comboios entre as 23 horas e cinco da manhã, afectando as últimas circulações do dia”. O responsável da IP esclareceu que, em conjunto com a CP, serão preparados serviços de substituição por autocarro, como é habitual sempre que se interrompe serviço ferroviário.

Por seu lado, o Presidente da CP sublinhou outra “parte não tão boa da história” – por ocorrerem durante a noite, as obras deverão ter um “maior impacto junto de quem mora ao pé da linha”, principalmente por questões de ruído. Para garantimos que as pessoas continuam a chegar ao trabalho no dia-a-dia, temos de nos limitar ao período nocturno, e de gerir essas situações com as autarquias e juntas de freguesia”, disse Pedro Moreira.

Apesar de electrificada desde os anos 1920, a Linha de Cascais funciona com uma tensão diferente (1500 volts em corrente contínua), o que a torna isolada da restante rede: nela só podem circular comboios preparados para essa tensão, o que condiciona a CP ao actual e envelhecido material circulante. Ao uniformizar a Linha para 25 mil volts, como toda a restante rede, essa limitação ao nível da frota desaparece e, em teoria, a CP poderia colocar qualquer comboio na Linha de Cascais, para substituir actuais ou como reforço.

Não será preciso fazê-lo, porque haverá novos 34 comboios a chegar em 2026 para esta Linha, mas já lá vamos. Antes, os detalhes da intervenção na catenária: a empreitada vai custar cerca de 31,6 milhões de euros, será executada pelo consórcio formado pelas empresas FERGRUPO – Construções Técnicas Ferroviárias, S.A. e Comsa, S.A. e terá um prazo de 730 dias, ou seja, dois anos. Se tudo correr bem, a modernização estará pronta no final de 2024; se atrasar, em meados de 2025.

A empreitada de substituição da catenária (que esteve inicialmente prevista para terminar em 2021) envolve também mexidas na via dupla da Linha de Cascais. Apesar de o carril em si já ter sido modernizado, está planeada a inclusão de várias diagonais ao longo do percurso, “que vão permitir aos comboios mudar de uma linha para a outra quando há algum acidente ou perturbação”. O novo sistema de sinalização, de que falaremos já a seguir, irá permitir essas mudanças de linha.

Apresentação via IP

E mais?

  • vai ser construída uma subestação de tracção eléctrica em Sete Rios para alimentar a Linha de Cascais no futuro. O projecto está a ser desenvolvido e espera-se que a obra possa arrancar em Maio de 2023. Com a criação desta subestação, preparada para a nova tensão, as subestações de 1500 volts do Cais do Sodré, Belém, Cruz Quebrada, Paço de Arcos, Carcavelos e São Pedro, que alimentam actualmente a Linha de Cascais, vão ser desactivadas. “Vamos ter apenas uma subestação para toda a Linha de Cascais que vai ser alimentada a 60 mil volts, a altíssima tensão”, explicou Carlos Fernandes;
  • em curso, está a instalação de um novo sistema de sinalização e de um sistema de controlo de velocidade, que permitirão uma melhor relação entre os comboios e a via férrea, permitindo níveis mais elevados de segurança e melhor gestão do canal ferroviário. Esta obra foi iniciada no mês de Outubro. “Com esta nova sinalização, a Linha de Cascais passará a ser operada a partir do Centro de Comando Operacional (CCO) de Lisboa”, à semelhança da restante rede ferroviária, disse o responsável da IP.
  • ainda falta avançar com várias empreitadas para:
    • a instalação dos novos sistemas de informação ao público, com a instalação de painéis digitais, altifalantes e relógios nas estações, bem como de vigilância;
    • a modernização das estações e apeadeiros, com a renovação da sinalética, pinturas e recuperação de azulejos dos edifícios, alteração dos abrigos, melhorias de passagens superiores e inferiores, nova iluminação, garantia de acessibilidade plena e instalação de elevadores… “Vamos investir 12 milhões de euros”, referiu o Vice-Presidente da IP;
    • e, por fim, para a instalação de um cabo de alimentação entre a subestação de Sete Rios e a Linha de Cascais. Sobre a modernização das estações,
Apresentação via IP

E qual o futuro da Linha?

Para Carlos Fernandes “há uma segunda fase” da modernização da Linha de Cascais e que consiste na sua ligação desnivelada à Linha de Cintura em Alcântara. “Com a ligação à Cintura, vamos conseguir captar passageiros que hoje não se sentem serviços pelo Cais do Sodré”, apontou o responsável da IP, explicando que o maior movimento de passageiros hoje na Linha de Cascais é em direcção à estação terminal em Lisboa. “No essencial, as pessoas que usam a Linha de Cascais têm origem ou destino no Cais do Sodré”, onde se registam cerca de 50 mil passageiros diários.

A rede ferroviária proposta para a AML segundo o Plano Ferroviário Nacional (DR)

Ligando Cascais à Cintura, seria possível quatro ligações por sentido e por hora entre Cascais e o Oriente, criar serviços de Cascais para a Linha do Norte ou também para Sul. No fundo, “dar uma nova acessibilidade a Cascais e também a Oeiras”, sintetizou Carlos Fernandes, relembrando o recém-apresentado Plano Ferroviário Nacional. O Vice-Presidente da IP estima que, com a conclusão da Linha Circular do Metro de Lisboa e com a operacionalização da ligação à Linha de Cintura, a Linha de Cascais pode ganhar “quase 6 milhões de novos passageiros”, aproximando-se de “quase 40 milhões de passageiros por ano, o que a coloca muito perto dos 50 milhões da Linha de Sintra” (a Linha de Cascais é hoje a segunda linha ferroviária mais movimentada do país).

Por seu lado, o Presidente da CP concentrou-se nos 34 novos comboios que irão começar chegar em 2026 para substituir as 31 unidades actuais – que “só se mantém em operação graças à grande capacidade da CP de manter e renovar a sua frota”, como elogiou o colega da IP. Para Pedro Moreira, mesmo com a sua antiguidade, a Linha de Cascais consegue tirar “55 mil carros da estrada”. Os novos comboios poderão atingir 140 km/h, mas com o número de estações existentes na Linha é difícil que cheguem a essa velocidade máxima, disse. No entanto, terão um poder de aceleração maior para que possam arrancar mais rápido de cada estação. “Com mais aceleração conseguiremos reduzir substancialmente os tempos de viagem”, esclareceu o responsável da CP.

Os 34 comboios que a CP está a comprar para a Linha de Cascais custarão cerca de 238 milhões de euros, adiantou Pedro Moreira. Fazem parte de um pacote de 117 novas unidades eléctricas que a operadora ferroviária está a adquirir por 819 milhões; o concurso público ainda decorre e conta com quatro concorrentes: a Alstom/DST, a Siemens/Talgo, a Stadler e a CAF. Numa primeira fase, os novos comboios irão coexistir na Linha de Cascais com as actuais automotoras na tensão antiga; só quando a frota renovada for em número suficiente para a procura da Linha, serão encostados os comboios antigos e será alterada a tensão de 1500 para 25 mil volts.

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