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À procura do improviso perfeito, com Nani

Foi com um bis do capitão que o Sporting ganhou (2-1) ao V. Setúbal e ficou com os mesmos pontos e golo marcados e sofridos que o Benfica, que defrontará na próxima jornada. Mas, como na semana passada, onde os leões ainda encravam e falham como equipa, é onde mais dependem de invenções individuais para sobreviverem

Diogo Pombo

Carlos Rodrigues

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O momento existiu em que José Peseiro, a matutar para os seus botões, a ponderar os prós que, por demais evidente, perdiam para os contras, decidiu aceitar o trabalho de treinar a equipa de futebol do Sporting. Este Sporting muito em particular, emaranhado numa rede de invasões agressoras, presidentes destituídos, assembleias-gerais marcadas e desmarcadas, candidatos mil, ex-presidentes impedidos de serem candidatos e providências cautelares.

São confusões não-futebolísticas, uma coleção de acontecimentos que estariam no arquétipo de como não desorganizar um clube, que farão com o dia em que o Sporting arranjar estabilidade tenha a mesma importância que o maniatar do fogo teve para a história da humanidade. José Peseiro, de qualquer forma, arriscou e disse que sim.

Os jogadores iam e vinham, alguns contratos rescindidos regressavam como novas linhas pretas a serem escritos no branco, Peseiro foi treinando uma equipa que ainda continua em fase de montagem, sereno e sem levantar ondas no mar já muito picado, e o seu discurso nunca se desviou muito desta linha: nós estamos focados no futebol, nos jogos, nos treinos e no que se cinge ao relvado, não nos metemos nas coisas que há fora do campo, e o importante é ganhar, seja como for, até essas coisas se resolverem.

E o Sporting ganhou ao Moreirense, uma semana atrás, muito no esforço, na luta, num jogo mais direto e na procura aérea da área dos outros, menos pensado e articulado para sair da sua área, e redisse o que já tinha dito - interessa, nesta altura, ganhar de que forma for.

Uma maneira de jogar que se repetiu, em bastantes coisas, em Alvalade, onde os leões, mesmo que em menor dose, repetiram o jogo ofensivo algo aos solavancos, insistente em circular a bola por fora. Os laterais projetavam-se para desocuparem os espaços que Battaglia e Misic, cada um para o seu lado, mas quase na mesma linha, ocupavam para darem saída de bola à equipa.

Essa filtragem de jogo atacante, porém, banalizava-se pela repetitiva escolha em lançar Jefferson no apoio a Nani, pela corda invisível que não separava em mais de cinco metros os dois médios mais recuados, tornando-os meros trincos que não procuravam receber a bola entre as linhas do Vitória.

Na companhia do Sporting, a bola foi muito às alas para ser muito cruzada para Bas Dost, quem nunca encontrou pelo ar, ou pela relva, também porque Bruno Fernandes corria para se aproximar de Nani enquanto Acuña circulava por dentro, à procura de ser e receber como um extremo de jogo interior, de toque, de tabelas e de jogo de costas para o alvo, que nunca pareceu ser.

Pelo coletivo, produzia muito pouco, com quase inexistente dinâmica, um chavão que se manteve quase sempre até ao fim do jogo e, desconstruído, significa que raras são as jogadas em que os jogadores se mexem, desmarcam e reagem ao espaço e aos movimentos dos outros com um critério que pareça planeado. Ou variado. Ou que em hora e meia haja mais do que a cabeça de Battaglia a desviar um livre de Acuña, ou do que o livre que Nani bate à barra.

Carlos Rodrigues

Bolas paradas, laivos individuais e improvisos. Como o que aconteceu assim que houve uma simples tabela, após um lançamento lateral, para Nani rematar onde se esperava que cruzasse, como se viu pela lenta reação de Cristiano e os apoios pesados do guarda-redes que ajudou ao 1-0.

A única jogada ligada, com tabelas e, pelo menos, três jogadores envolvidos, deu o segundo golo ao capitão leonino, ao cabecear na passada a bola tensa que Jovane Cabral cruzou para a área.

Entre os golos houve outro, ainda na primeira parte, que Zequinha marcou para o Vitória na ressaca da bola que Salin, aventureiro para longe dos postes, não agarrou. Como várias outras, na reação a cruzamentos, em que errou na abordagem e falhou o murro, o desvio ou o agarrar da bola. Num canto, Cádiz antecipou-se às mãos não calculadas do francês e o desvio passou bem perto do poste.

Porque, a defender, os leões comportaram-se, por demasiadas vezes, de forma individual e isolada, com jogadores a saírem sozinhos na pressão, ou a não taparem, juntos, os espaços por onde os sadinos podiam atacar. Em saídas rápidas com bolas recuperadas, o Vitória chegou, pelo menos, uma dezena de vezes à área do Sporting e a equipa de José Peseiro apenas reagiu, nunca agindo, em bloco, para prevenir os contra-ataques adversários.

O Sporting melhorou um pouco com os pés leves e tabeladores de Montero, na frente, que jogavam mais longe da área e perto de Nani e Bruno Fernandes, que tem corrido mais do que tocado na bola. A equipa fechou o jogo encolhida na área e a guardar a bola olhando para o relógio, em vez da baliza sadina.

O que interessava era ganhar.

Porque, assim, chegará ao dérbi com o Benfica com os mesmos seis pontos, cinco golos marcados e dois sofridos do rival. Numericamente falando, estão iguais, mas, se a base forem os 180 minutos jogados no campeonato, a dependência nas quotas individuais de improviso para inventarem o que a equipa, simplesmente, não fabrica, está do lado do Sporting.

E, algum dia, isso também terá que interessar. Mesmo que José Peseiro vá dizendo o mesmo tipo de coisas: "Mesmo sabendo que os jogadores têm potencial para jogar a outra nível, as duas vitórias são justíssimas. Sabemos onde estamos e para onde queremos ir, foi mais um passinho.”