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1. Sumário Executivo.

A Gripe é uma doença causada por vírus da família Orthomyxoviridae e do género Influenza A, que pode afectar o Homem, e também diferentes animais, como o cavalo, o porco e as aves, causando doença grave em todas estas espécies, embora cada vírus seja de um modo geral específico da respectiva espécie. Esta especificidade é imposta pela presença nas células de receptores que apenas se ligam a determinadas estruturas da superfície dos vírus, permitindo depois a entrada do vírus na célula. Estas estruturas variam de espécie para espécie. Assim, por regra, vírus que infectam o Homem não infectam outras espécies e vice-versa, dada a ausência de receptores que o permitam. Excepção a esta regra de especificidade pode contudo ocorrer no porco, cujas células são susceptíveis de infecção quer por vírus humanos quer por vírus aviários e também noutras espécies através de duas vias possíveis, a mutação e a recombinação genética. Oportunidade para a recombinação genética pode ocorrer nas infecções mistas com diferentes estirpes de Influenzae A, isto é quando dois vírus infectam a mesma célula, os novos vírus que nela se formam podem herdar conjuntos de segmentos de RNA resultantes da combinação de segmentos idênticos a cada um dos vírus originais. Assim, o hospedeiro mais provável para que esta recombinação se dê é o porco e só exceptionalmente o Homem, as aves e o cavalo, se por mutação fortuita num vírus este consiga entrar numa espécie para a qual não tinha originalmente especificidade. Quando este fenómeno biológico acontece, a ultrapassagem da “barreira de espécie” é normalmente acompanhada de um surto de gripe de virulência acrescida na nova espécie. Por isso, embora os vírus da gripe humana estejam constantemente presentes na nossa espécie, afectando com gravidade relativa uma percentagem significativa da população humana todos os anos, as maiores e mais graves pandemias de gripe descritas na história resultaram da disseminação de vírus oriundos de outras espécies nomeadamente das aves.

Neste artigo tentaremos abordar as características dos vírus Influenza, nomeadamente dos agentes da gripe das aves e da famosa estirpe H5N1 para tornar compreensível não só as razões pelas quais esta estirpe pode constituir um potencial risco para a espécie humana mas, ainda, para racionalizar as diferentes medidas de segurança preconizadas quer pela OMS quer pela União Europeia, para que este risco seja reduzido ao mínimo. Dado que o público em geral é muito susceptível a situações alarmistas reagindo de imediato com a suspensão do consumo de um produto, mesmo antes de ter compreendido qual o risco que dele decorre, este artigo visa ainda esclarecer as pessoas para o facto de o risco de contaminação com um vírus da gripe aviária através do consumo de produtos avícolas cozinhados ser cientificamente nulo e justificar porquê.

2. Características dos vírus Influenza

Os vírus do género Influenzae pertencem à família Orthomyxoviridae e são agentes patogénicos muito importantes no Homem e animais. Habitualmente distinguem-se 3 géneros de Influenzae: A, B e C. Os vírus do tipo A são isolados a partir de uma grande variedade de animais, incluindo o homem, suínos, aves domésticas e selvagens, e mesmo mamíferos marinhos. Os vírus do tipo B apenas afectam o homem e os C são pouco patogénicos. No caso das aves, este síndroma gripal é causado por vírus Influenzae do tipo A. Embora habitualmente estes agentes não sejam zoonóticos, eles tendem a ultrapassar a barreira de espécie com alguma facilidade, desenvolvendo estirpes mutantes potencialmente patogénicas para o Homem.

Os vírus Influenzae são pleomórficos (podem apresentar diferentes formas, desde esféricos a filamentosos), têm 80-120 nm de diâmetro e possuem invólucro. No invólucro existem dois tipos de proteínas: hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). Estas, para além de serem os componentes estruturais que se ligam aos receptores celulares, permitindo a entrada do vírus nas células susceptíveis, são antigénios muito importantes para o estabelecimento da imunidade, constituindo a base da classificação dos vírus Influenzae. Dentro do tipo A, existem 16 H e 9 N diferentes, podendo surgir em qualquer das combinações possíveis. A diversidade existente e a potencial emergência de novas variantes, surge em consequência de uma grande susceptibilidade dos segmentos genéticos que as codificam para a ocorrência de mutações, que se devem primordialmente a erros ne replicação viral, da responsabilidade de enzimas (RNA polimerases). Até à data todos os vírus patogénicos mais comuns pertencem aos subtipos H7 ou H5. O genoma destes vírus é constituído por 6-8 segmentos de RNA (-) de cadeia simples, que codificam 10 proteínas e tem 10-13.6 Kb.

Como o RNA viral é segmentado, a recombinação genética pode ocorrer nas infecções mistas com diferentes estirpes de Influenzae A. Isto significa que quando dois vírus infectam a mesma célula, os novos vírus que nela se formam podem herdar conjuntos de segmentos de RNA resultantes da combinação de segmentos idênticos a cada um dos vírus originais. Isto implica que possam surgir uma enorme variedade de combinações, embora apenas algumas sejam biologicamente viáveis.

Os vírus Influenza são relativamente pouco resistentes no ambiente: são sensíveis ao calor (inactivação 56°C/3 horas; 60°C/30 min), à acidez (pH ácido), aos químicos (solventes lipídicos, agentes oxidantes, ß-propiolactona) e desinfectantes (formalina e compostos de iodo). Conseguem manter-se viáveis por longos períodos de tempo em tecidos, fezes e água.

3. Dados históricos e epidemiológicos

O síndroma gripal originado pelos vírus influenza foi referido pela primeira vez por Hipócrates no ano 412 A.C e a primeira descrição de uma pandemia remonta a 1580. Desde então crê-se que tenham ocorrido mais de 30 pandemias, três das quais no século XX, todas originadas e transmitidas por animais (suínos em 1918 e aves em 1957 e 1968). A mais devastadora doença viral deste século foi a pandemia de “Gripe Espanhola”, devida ao vírus Influenzae A (H1N1), que  provocou a morte de 25-50 milhões de pessoas em todo o mundo em 1918-1920. As pandemias de 1957 (gripe asiática) e de 1968 (gripe de Hong Kong) mataram mais de 4 milhões de pessoas, sobretudo crianças e idosos; a primeira foi devida ao subtipo A (H2N2) e a segunda ao subtipo A (H3N2).

Em Maio de 1997 (Hong-Kong) o vírus Influenzae A (H5N1), uma estirpe aviária, foi isolado pela primeira vez em humanos, numa criança de 3 anos que faleceu com Síndrome de Reyes (complicação no sistema nervoso central, reconhecida como sendo consequente a uma gripe). Antes deste caso, só se tinha conhecimento da existência do vírus Influenzae A (H5N1) em diferentes espécies de aves incluindo galinhas, patos e gansos, sabendo-se ainda que a maior parte das galinhas infectadas morriam num curto espaço de tempo, e que os patos e os gansos eram os principais reservatórios do vírus.

Após este primeiro caso, deu-se início a uma vigilância intensiva nos hospitais e serviços de consulta externa, que revelou mais casos em humanos. Principiou-se também a vigilância epidemiológica em suínos e aves domésticas e a investigação sobre as características do vírus isolado, a forma de transmissão ao homem e a identificação do reservatório natural. O subtipo H5N1, isolado pela primeira vez em estorninhos (África do Sul, 1961) foi detectado num elevado número de galinhas. As autoridades locais conseguiram controlar o problema procedendo ao abate de 1,6 milhões de aves domésticas (galinhas, patos e gansos) que constituíam o reservatório de vírus .

Este surto afectou 18 pessoas residentes no Território da China, 6 dos quais vieram a morrer (índice de mortalidade de 33%). Estudos efectuados durante o surto de Hong Kong comprovaram a transmissão animal-homem, através do contacto directo com aves vivas. Os estudos realizados apontam para a inexistência de transmissão homem-homem, embora ainda não tenha sido possível excluir-se essa possibilidade.

Situação Recente

Recentemente têm sido notificados os seguintes casos de infecção em humanos:
- 1999 – isolamento da estirpe H9N2 em duas crianças em Hong Kong. A doença manifestou-se de forma moderada e ambas as crianças sobreviveram. Não se detectaram outros casos. Outros 6 casos não correlacionados foram detectados na China. Todas as pessoas recuperaram.
- 2002 – detectaram-se anticorpos para o vírus aviário H7N2 numa pessoa após um surto em galinhas (no estado de Virgínia, EUA);
- 2003 – duas infecções por influenza aviária (H5N1) foram notificadas em Hong Kong.
- Ainda em 2003 – 347 casos, dos quais 89 confirmados, de infecção em humanos associada a um surto de influenza aviária H7N7 em frangos, na Holanda. A maioria dos casos ocorreu em trabalhadores da indústria avícola, mas 3 familiares também adoeceram. Em 78 dos casos confirmados, o único sinal de infecção foi a conjuntivite. O único óbito ocorreu num veterinário que desenvolveu síndroma respiratório agudo e outras complicações.
- 2003 – confirmação de uma infecção pelo vírus influenza aviário H9N2 numa criança em Hong Kong.
- 2003 – infecção por H7N2 e sintomas respiratórios num paciente em Nova York.
- 2004 – dois casos de conjuntivite e sintomas gripais em dois trabalhadores da indústria avícola no Canadá. Dez casos suspeitos mas não confirmados. Infecções associadas a um surto em aves de influenza H7N3.
- 2004 e 2005 – casos de doença e morte (76/37 no Vietname, 17/12 na Tailândia, 4/4 no Camboja). Casos associados a surtos disseminados de influenza aviária H5N1 em aves domésticas.

A epidemia que ainda hoje (2005) está em curso na Ásia começou em meados de Dezembro de 2003 a partir da República da Coreia. Os países até agora afectados foram a República da Coreia, o Japão, a Tailândia, o Vietname, o Taipé (China), o Camboja, Hong Kong (região especial chinesa), Laos, Indonésia e Malásia. O mais recente surto eclodiu em Dezembro de 2004, no Vietname, e desde então já morreram ou foram abatidas mais de um milhão de aves no país. A gripe das aves matou até agora perto de 60 pessoas e foi responsável pelo abate de cem milhões de aves em vários países asiáticos.

Não se espera que a curto prazo estes surtos epizooticos que tem ocorrido na Ásia diminuam. É provável que naquela região a infecção por H5N1 se tenha tornado endémica nas aves e que a doença continue a ocorrer em humanos. Até ao momento não se verificou transmissão de homem para homem, nem existem evidências de que possa ter existido recombinação genética entre genes de vírus influenza humanos e aviários. A população humana não tem imunidade natural contra o vírus H5N1, pelo que, caso este adquira a capacidade de transmissão eficiente entre humanos, é provável que ocorra uma pandemia com consequências graves para a humanidade.

4. Sintomatologia, diagnóstico e  identificação do agente

Nas aves

A doença pode ter apresentações clínicas muito variáveis (desde assintomática a mortal). O período de incubação também é muito variável (3 a 7 dias). As estirpes altamente virulentas causam morte súbita (a mortalidade pode chegar aos 100%) sem sintomatologia típica. Quando as aves sobrevivem existe depressão severa, anorexia, diminuição drástica da produção de ovos, insuficiência respiratória, sinusite, diarreia verde a esbranquiçada, edema da cabeça, face e pescoço, cianose da crista e barbela. Os sinais clínicos podem ser exacerbados quando existem infecção intercorrentes.

As lesões post-mortem podem estar ausentes nos casos de morte súbita. Caso contrário, podem existir: congestão severa dos músculos; sinais de desidratação; edema subcutâneo da cabeça e pescoço, congestão severa da conjuntiva; presença de exsudado no lume da traqueia e/ou traqueíte hemorrágica severa; petéquias na superfície interna do esterno, nas serosas e na gordura abdominal; congestão severa dos rins (por vezes com depósitos de uratos); hemorragia e degeneração do ovário; hemorragias na mucosa do proventrículo; hemorragias e erosões na moela; focos hemorrágicos nos tecidos linfoídes da mucosa intestinal.

No Homem

No Homem as infecções por vírus influenza podem ser desde assimptomáticas a mortais e tem um período de incubação curto (1-4 dias). Embora a maioria dos casos seja de infecções agudas e autolimitadas (febre, tosse, anorexia, garganta inflamada, corrimentos ou congestão nasais, dores de cabeça, dores musculares e fadiga extrema), podem ocorrer complicações severas, tais como pneumonia e agravamento de doenças crónicas preexistentes. As crianças e grávidas são frequentemente hospitalizadas e consequências mais sérias surgem nos mais idosos. Quando ocorre uma pandemia, a taxa de morbilidade é elevada e resulta em aumento do número de hospitalizações, e por vezes, de mortalidade. De uma forma geral estes grupos de risco são os mais afectados, mas no caso da infecção com a estirpe H5N1, outros grupos etários têm sido também afectados.

No Homem, a infecção pela gripe das aves manifesta-se habitualmente por conjuntivite ou outros sintomas gripais, mas pode também causar situações mais complicadas: pneumonia viral, síndroma de insuficiência respiratória aguda, pneumonia broncointersticial severa, disfunção de múltiplos órgãos, diarreia, vómitos, encefalites, hemorragias nazais, etc.

Diagnóstico

Para além de recorrer à observação da sintomatologia, as infecções por influenza podem ser diagnosticadas por diversas técnicas.

1) Isolamento e identificação do agente
- Inoculação de ovos de galinha embrionados com 9-11 dias, seguida de demonstração de hemaglutinação;
- Imunodifusão para confirmar a presença de vírus influenza A;
- Determinação do subtipo com antisoro monoespecífico;
- Avaliação da virulência da estirpe: índice de patogenicidade (IVPI) em galinha de 4-8 semanas;
- Amostra: zaragatoas fecais (cloaca) ou traqueais a partir de aves vivas, órgãos ou macerados de órgãos (traqueia, pulmões, intestino, baço, rim, coração), fezes de animais mortos.
2) Serologia
- Hemaglutinação e inibição de hemaglutinação
- Imunodifusão em gel
- ELISA
- Amostra: sangue coagulado ou soro
3) Outros: Imunofluorescência Indirecta, RT-PCR, ELISA

5. Vias e formas de transmissão, potencial contaminação entre espécies e ao Homem.

Hospedeiros

As estirpes de vírus Influenza A que causam surtos epidémicos a nível mundial, são o exemplo clássico de vírus emergentes mantidos num hospedeiro reservatório (aves aquáticas) antes de ocorrer a transmissão ao Homem. As aves aquáticas migratórias podem transportar o vírus entre continentes e desse modo representar um papel importante no processo de evolução contínua do vírus. Existem transferências periódicas entre estes reservatórios e outras espécies de animais (aves domésticas, suínos, cavalos, homem, etc). Os vírus de influenza aviária também têm sido isolados em aves exóticas, e questiona-se o papel que estas terão na epidemiologia da doença.

- Transmissão

Pode ocorrer por contacto directo com as secreções de aves infectadas, especialmente com fezes que podem contaminar alimentos, águas, equipamento, vestuário dos trabalhadores das explorações, etc. Aves não domésticas aparentemente saudáveis (portadores sãos) podem introduzir o vírus nos efectivos de produção através da co-habitação que pode ocorrer em explorações ao ar livre ou com construção deficiente dos pavilhões que permita a entrada destas aves.

Transmissão entre espécies

A probabilidade de ocorrer transferência entre espécies pode ser aumentada quer pelo maior contacto entre o homem e o animal hospedeiro, quer pela capacidade de recombinação ou rearranjo genético do vírus. Como o vírus influenza possui um genoma com 8 segmentos, a sua liberdade para efectuar estes rearranjos é grande. Assim, a emergência de variantes pode ocorrer por “genetic drift”, isto é mutações pontuais (substituição, inserção, delecção de nucleótidos) ou “genetic shift”, rearranjo de segmentos de genoma. Esta capacidade de transformação permite a evasão ao sistema imunitário do hospedeiro e acarreta a ocorrência de epidemias anuais devidas a mutações pontuais (nas proteínas H - hemaglutinina e N - neuraminidase). As novas estirpes originadas a partir de rearranjos no gene que codifica a hemaglutinina, surgem periodicamente, a intervalos irregulares, e causam pandemias mundiais, afectando um grande número de pessoas num curto espaço de tempo.

Provavelmente, futuras pandemias serão causadas por vírus aviários que possuam antigénios para as quais o Homem não tenha desenvolvido imunidade. Desconhece-se se estes vírus serão introduzidos na população humana directa ou indirectamente, mas pelo menos um das situações parece plausível. Pensa-se que os locais onde aves, suínos e humanos, vivem em contacto estreito, terão um papel relevante na criação de condições favoráveis à ocorrência de mutantes que resultam de alterações genéticas.

Rearranjo genético e o papel dos Suínos

Se a estirpe que causar a próxima pandemia for resultado de um rearranjo como aconteceu em 1957 e1968, um único animal terá de ser infectado por dois vírus diferentes, um aviário e um humano. Pensa-se que o principal candidato ao papel de hospedeiro intermediário seja  o porco, visto que esta espécie é susceptível à infecção, quer por estirpes aviárias, quer por estirpes humanas por possuir receptores de superfície para ambos os vírus.

Existem evidências de que a especificidade do receptor de uma estirpe aviária pode alterar-se durante a sua replicação em suínos, ficando apto a reconhecer receptores humanos. Outra prova de que estes animais podem ser importantes na incorporação das estirpes é a presença de, aviário e humano, nas células da traqueia. Pode também ocorrer uma alteração da especificidade do receptor durante a replicação do vírus aviário em suínos de forma que não seja necessário o rearranjo com um vírus humano (B).

Transmissão directa

A possibilidade de transmissão directa ao Homem, confirmou-se quando a estirpe aviária patogénica (H5N1) causou infecções graves, embora em número limitado, na população de Hong Kong. Outros exemplos são o isolamento de uma estirpe aviária (H7N7) num adulto em Inglaterra e os casos recentes de doença causada pela estirpe (H9N2) (Hong Kong, 1999) . À transmissão directa pode seguir-se o rearranjo (C ) ou adaptação (D) no homem. Outra teoria para a emergência de estirpes pandémicas é a de que o vírus possa reemergir de hospedeiros desconhecidos.

6. Vigilância e controle da Gripe

A OMS é responsável pela Rede Internacional de Vigilância da Gripe desde 1948. Esta rede é formada por 4 Centros Colaboradores de Referência e Investigação da Gripe (Austrália, Japão, Reino Unido e E.U.A ), e 110 Centros Nacionais da Gripe sediados em 83 países. Esta rede permite a monitorização de actividade do vírus influenza em todas as regiões do mundo e garante que os vírus isolados e a informação seja rapidamente enviada aos Centros Colaboradores. Estes têm a responsabilidade de fazer a imediata identificação e caracterização genética das estirpes.

A vigilância durante e entre os períodos de epidemia é realizada pelos 110 centros nacionais. Em Portugal o Centro Nacional da Gripe, está sediado no Instituto Nacional de Saúde. Estes Centros isolam o vírus de humanos e animais, por forma a que estirpes emergentes sejam rapidamente identificadas. Os resultados da rede de vigilância são revistos em Fevereiro e Setembro por forma a recomendar qual a composição antigénica da vacina a fabricar no ano seguinte. Actualmente as vacinas são produzidas fundamentalmente em ovos de galinha embrionados inoculados com a estirpe que apresenta a constituição antigénica desejada (HN).

A OMS incentiva a pesquisa de métodos alternativos de fabricar a vacina para diminuir a dependência da utilização de ovos embrionados e consequentemente acelerar e aumentar a sua produção em situações de urgência. A produção, testagem e distribuição de uma nova vacina pode demorar seis meses, o que é demasiado tempo, caso surja uma situação de pandemia e seja necessário actuar mis rapidamente.

Em 1996 a OMS criou a “Task Force of Experts on Influenza” que inclui os directores dos Centros Colaboradores e representantes dos Centros Nacionais. Este conjunto de peritos elaborou um plano de Gestão e Controlo Global de Gripe Pandémica. Os princípios deste plano são: uma maior vigilância e identificação de vírus com potencial pandémico, a disseminação de informação, a logística de suporte às autoridades nacionais de saúde, a promoção do fabrico de stocks de vacinas e sua distribuição, e ainda a elaboração de um plano nacional de emergência para resposta à pandemia.

Para aperfeiçoar a vigilância e padronizar a declaração, a OMS, em conjunto com o Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica de Paris, criou uma ferramenta electrónica, acessível através da Internet, para fazer a ligação entre a rede mundial de centros – FluNet (htpp:/oms.b3e.jussie.fr/flunet). Cada centro autorizado introduz semanalmente dados e tem acesso em tempo real a informações epidemiológicas e virológicas. A base de dados foi criada em 1997 e inclui informação de países de todos os continentes. Adicionalmente, toda a informação introduzida é analisada e publicada pela OMS num Relatório Epidemiológico Semanal.

Vigilância Internacional

É uma doença de declaração obrigatória e implica restrições ao movimento de aves ou produtos derivados. Pertence à lista A do Código Internacional de Saúde Animal da O.I.E. A sua etiologia, epidemiologia, diagnóstico, prevenção e controlo, bem como a listagem dos laboratórios de referência e outras informações importantes estão disponíveis no portal da OIE.

Vigilância Nacional

Muitos países tem normas que previnem a introdução e disseminação do vírus e utilizam políticas de embargo a aves ou produtos de países que não estejam livres de doença. Na maioria dos países europeus o vírus é considerado um agente exótico: uma vez diagnosticado, implementam-se programas de eliminação e quarentena. Para evitar a disseminação aplicam-se medidas de limpeza e desinfecção, vazio sanitário, e movimento controlado de pessoas e animais. Em Portugal existe um Plano de Vigilância para a Influenza Aviária e Doença de Newcasttle, aprovado pela Comissão Europeia e que explica as metodologias a seguir para defesa do efectivo animal nacional da introdução destes vírus e em caso de detecção de algum surto de gripe aviária no território nacional. Este plano inclui medidas de vigilância activa e passiva e planos de contingência, que passa pela colheita e análise sistemática de amostras biológicas provenientes de aves domésticas e silvestres para detecção do vírus, pelo estabelecimento de medidas estritas de higiene para todos os manipuladores de aves (vivas ou mortas). O plano de contingência prevê que, em caso de detecção de um foco numa exploração, se desencadeie de imediato a eliminação de todos os animais da exploração e a activação de cordões sanitários em torno do mesmo, definindo “Zonas de Protecção” (raio de 3Km) e “Zonas de Vigilância” (raio de 10 Km) em que se implementarão regras estritas de procedimento completamente bem definidas por comissões inyternacionais e nacionais de peritos.

7. Considerações finais.

O público em geral é muito susceptível a situações alarmistas que na sociedade global, altamente influenciada pelos media, surgem cada vez com maior fequência. A tendência de resposta em situações deste tipo é a imediata suspensão do que parece ser um risco motivada pelo pânico e pela falta de esclarecimento que resulta numa enorme insegurança. Assim a reacção mais previsível logo que surge uma notícia relativa à gripe das aves é a imediata suspensão do consumo da carne de frango. Esta atitude compreensível mas irracional do público tem efeitos imediatos de enorme gravidade a nível dos mercados levando a roturas nas cadeias de produção com consequências brutais, tanto económicas como sociais, e até mesmo de ordem ética. O número de animais que por deixarem de ser comercializados têm que ser destruídos sem qualquer proveito, é enorme. E de facto parece nunca ser demais informar por todos os meios ao nosso alcance de que, dadas as características do vírus, atrás referidas, nomeadamente a sua grande sensibilidade à temperatura (não resiste a 60ºC durante 30 minutos) o consumo de carne de frango ou perú ou de ovos, desde que estes alimentos sejam cozinhados (temperaturas sempre acima dos 70º) não constitui qualquer risco de contaminação. Aliás a infecção por vírus Influenza ocorre por via respiratória e não por via digestiva. Pelas características dos nossos sistemas produtivos, bem diversos dos sistemas asiáticos, os riscos de transmissão Ave-Homem na Europa e, particularmente, em Portugal, são muito menores do que aqueles que existem nos países asiáticos. Assim parece-nos fundamental realçar que  os consumidores de carne de ave não incorrem em qualquer risco de contaminação por este vírus mesmo em situação de surto de gripe aviária.

Por outro lado, numa situação de surto de gripe aviária, que felizmente  não existe para já entre nós, é o contacto e a manipulação de aves vivas, cadáveres ou excreções de aves que constitui o risco e que deverá, portanto, ser objecto de medidas eficazes de prevenção. Estas deverão centrar-se na lavagem e desinfecção sistemática das mãos e na utilização de protecção com máscara e luvas sempre que se manipular qualquer ave suspeita ou, sistematicamente, para os trabalhadores da indústria avícola, nomeadamente funcionários envolvidos no abate, depena e evisceração de aves. Na população em geral risco acrescido ocorre na população de caçadores, guardas florestais e vigilantes da natureza sobretudo se se depararem com aves mortas. Neste caso deverão sempre revestir-se dos cuidados atrás indicados. 

Por último temos que referir que os nossos serviços oficiais, nomeadamente a Direcção Geral de Veterinária, o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária e a Direcção Geral de Saúde e diferentes serviços de saúde, estão constantemente alerta, completamente informados do ponto de vista científico e técnico e deverão por isso constituir para a população em geral um motivo de acrescida confiança e segurança.

Uma pandemia humana resultante da emergência de novo de uma estirpe de vírus originária de um surto de gripe aviária poderá eventualmente ocorrer, tal com aconteceu já historicamente nas datas que atrás referi, mas a sociedade actual tem hoje muitíssimos mais meios para a prevenir, evitar ou combater, minimizando os potenciais riscos e as consequências para a saúde póblica do que tinha outrora. Não deverá portanto a população em geral deixar-se tomar por receios infundados ou envolver excessivamente por uma constante informação que os media provavelmente irão manter nos tempos mais próximos, mas sim manter-se tranquilamente alerta.

Luis Tavares e Claúdia Almendra

Sector de Microbiologia e Imunologia
Departamento de Sanidade Animal


 

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