CD / Digital

BROCKHAMPTON

ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE

Question Everything, Inc. / RCA / Sony Music / 2021

Texto de Miguel Santos

Publicado a: 20/05/2021

pub

Os BROCKHAMPTON vão demonstrando que não têm tempo a perder e no seu sexto álbum em quatro anos resumem casualmente este novo projecto logo na primeira música: somos introduzidos a ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE pela metáfora sonora do instrumental insano de “BUZZCUT”, e a maneira como ele progride – começando possante e caótico e terminando mais calmo e com coros sussurrados — mostra-nos o que o disco faz ao longo das suas 13 músicas — ultrapassa o passado e vive o presente com optimismo para o futuro. 

Depois da catarse menos apelativa de iridescence e o convincente rescaldo emocional de GINGER, o terceiro álbum sob a alçada da gigante RCA é provavelmente o mais pesado da carreira da auto-intitulada “All-American Boy Band” (designação que já não parece satisfazer os seus membros). Os rapazes passaram por muito e o trauma parece ainda não ter acabado: este novo álbum debruça-se sobre o suicídio do pai de JOBA e a maneira como ele e os restantes membros reagiram a essa situação. Aliado a isso está uma reflexão sobre as tensões raciais que escalam de quando a quando nos Estados Unidos da América. Portanto, não é um trabalho fácil de digerir, pelo menos em teoria. 

Na prática, os rapazes norte-americanos conseguem serpentear pelas complexas emoções que as suas letras espelham. Há momentos mais claustrofóbicos — a festa apocalíptica de “DON’T SHOOT UP THE PARTY” ou o boom bap oriental e perscrutante de “WINDOWS” — e momentos mais esperançosos — a dança segura de “I’LL TAKE YOU ON” ou o excelente hino pop “COUNT ON ME”. O segredo está em saber encontrar o equilíbrio e os BROCKHAMPTON cumprem com mestria, por vezes na mesma música: “WHAT’S THE OCCASION?” é pessimista praticamente até ao fim, altura em que a batida floresce e parecemos ver o sol sorrir entre as nuvens. 

Há uma atenção à progressão das canções que revela uma maturidade na construção musical. A sonoridade aqui é fresca, diversa, saltitante, vemos cada vez mais a influência das guitarras no hip hop do grupo, e contam com mais colaborações do que nunca: nomes sonantes como Shawn Mendes, Chad Hugo, Danny Brown e A$AP Rocky dão o seu contributo a um projecto multifacetado e extremamente emocional.

O auge dessa emoção surge no tema final: “THE LIGHT PT.II” é um potente murro no estômago que puxa pelas lágrimas. JOBA dirige-se ao pai num sentido testemunho com mais questões que respostas, e que nos deixa sem saber bem como reagir. Os BROCKHAMPTON sempre primaram por essa capacidade de usar o estúdio como maneira de exteriorizar os seus conflitos internos, interiorizando os seus sentimentos e procurando a empatia no próximo, muitas vezes antes de a encontrarem em si mesmo — ou como nos diz Kevin Abstract em “THE LIGHT”: “Told the world who I was before I got to know Ian”. Em ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE, estão ainda mais próximos da perfeição dessa fórmula. E, ainda que o álbum se possa resumir nos seus primeiros minutos, é absolutamente essencial (e aconselhável!) que se oiça de uma ponta à outra.


pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos